No voo do condor



Não há mais aquela chama
do velho lampião de gaz,
do sereno na relva que deitamos,
nem a serenata dos pássaros.
Não há mais, meus sonhos voaram,
suas asas abertas riscaram o azul,
menos azul, também.
A moça de tranças
nas marcas das praias,
enquanto o mar balançava
entoando o hino feito para o amor,
amor que alçou voo,
sacudiu no tempo suas penas
marcando com dor o refúgio,
o escuro quarto,
o quarto de hora da despedida.
Não há mais recepções
para festejar tantas emoções.
Não há mais aquela espera,
algo que sempre deveria acontecer
quando as mãos não se negam.
Não há mais uma gota sequer
que possa relembrar,
satisfazer o ego inibido,
um refluxo quase proibido,
feito, desdobrado para reagir,
mas, sem que haja,
exista uma força para fugir,
fazer esquecer o que não há mais.
Não há mais, senão
uma longa, que pode ser curta espera,
para brilhar no espaço
e deixar aqui um risco, um traço
para sua eterna lembrança,
da chama do velho lampião.