Por trás do espelho o outro é feio e tu és belo.

Já era madrugada e para mim

Contabilizar o tempo tão pouco me importa

O espelho aproveitou que estava desatenta

E por um segundo me mostrou

Os tão temíveis pés de galinha que surgiram

Respondi que só apareciam quando sorrindo

Ele retrucou ser uma pena

Tanto tempo não tive oportunidade nem vontade

De sair sorrindo por aí

Agora que aprendi

Se solta-lo estarei expondo minha idade

Respirei fundo passando as mãos nos cabelos

Estes armados e enamorados no emaranhados

Do jeito como gosto

Do jeito como ele gosta

Sem ventos artificiais

Sem mãos estranhas passando

Sem químicas para delirar

O espelho com veneno escorrendo

Apontou-me os fios brancos

Mudei o ângulo

Apontou-me os fios brancos

Entre suspiro afirmei:

Quem me dera ter o branco da Maria

A Bethânia e a Dete

O espelho gargalhava

Parecendo um monte de moleque

Rindo por terem visto uma calcinha

Apaguei as luzes

Entre passos para outro cômodo

Decidi que jamais

Na frente do espelho

Novamente me elogiaria

Adriane Neves
Enviado por Adriane Neves em 02/09/2020
Código do texto: T7052452
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