Por trás do espelho o outro é feio e tu és belo.
Já era madrugada e para mim
Contabilizar o tempo tão pouco me importa
O espelho aproveitou que estava desatenta
E por um segundo me mostrou
Os tão temíveis pés de galinha que surgiram
Respondi que só apareciam quando sorrindo
Ele retrucou ser uma pena
Tanto tempo não tive oportunidade nem vontade
De sair sorrindo por aí
Agora que aprendi
Se solta-lo estarei expondo minha idade
Respirei fundo passando as mãos nos cabelos
Estes armados e enamorados no emaranhados
Do jeito como gosto
Do jeito como ele gosta
Sem ventos artificiais
Sem mãos estranhas passando
Sem químicas para delirar
O espelho com veneno escorrendo
Apontou-me os fios brancos
Mudei o ângulo
Apontou-me os fios brancos
Entre suspiro afirmei:
Quem me dera ter o branco da Maria
A Bethânia e a Dete
O espelho gargalhava
Parecendo um monte de moleque
Rindo por terem visto uma calcinha
Apaguei as luzes
Entre passos para outro cômodo
Decidi que jamais
Na frente do espelho
Novamente me elogiaria