[ sem título #31 ]

I.

te associarei,

neste momento,

às flores de cerejeira,

inda que aquelas flores rosas

que vi na calçada daquela rua,

não fossem de cerejeiras,

e nem fosse

de ti.

porque tão repentino

é este sentimento

que não digo amor

por medo das consequências

futuras;

e por não saber

se é sensação momentânea

e passageira acontecida

quando se cruza a cidade matutina

ao som de a-ha,

U2 (acho)

e Pearl Jam.

II.

um pássaro que cruza o céu

enquanto, veja só,

me deparo com mais flores

— porém, estas,

de plástico —

cujas pétalas são vermelhas,

continuará sendo um pássaro,

inda que eu atribua

ou então invente

qualquer outro

significado

para registrá-lo

num poema.

e por não saber se verdade

ou se ilusão nascida

de pensamentos,

necessidades;

isto,

que sinto,

fica comigo

enquanto aquele pássaro

segue seu rumo na vastidão

de um céu azul.

e estas flores,

não sei.

destas flores,

não saberei.

pois não imitarão o cheiro

de flor alguma,

inda que

as perfumem

com borrifadas,

para se trazer

para perto,

a centelha,

de alguma natureza,

quase extinta.

III.

tenho de pensar muitas vezes

caso venha a dizer que/

/se te amo,

pois nem

eu mesmo

o sei.

pois estas palavras

têm peso e carregam

um medo,

maior

que o fim do mundo.

e mesmo que eu busque

em mim mesmo

alguma coragem heroica,

há esta incerteza que não migra

para a certeza,

porque nem eu

o sei,

apesar

de te saber.

[ tocará...

...o telefone? ]