Das Coisas

É de certo que vim aqui por alguma razão

Talvez pela canção que meu coração ousa dançar

Talvez pelo horizonte e o que houver além dele e que meu olho quer tanto ver

Quem sabe também, o que eu não enxergo

O além, de tudo um pouco e ao mesmo tempo nada

O que restará se o relógio correr cada vez mais rápido

Nada

Nem um pingo do que costumava ser

E se vivemos cem ou mil anos

Tudo será somente história

Glória e infortúnio

Sorte e caricatura

Seremos todos, esculturas

Presos em corpos estáticos

Marionetes de quem vier ver

Você será o que disserem, o que pensaram que era

E viverá como quiserem, como pensaram saber

Seremos fósseis e fúteis como tudo aquilo que já assumiu uma forma maior que si

O mundo que é tão grande e cabe em uma palavra tão pequena

O homem que se aumenta com as palavras e reduz o universo a quatro sílabas

O leigo que fica preso a uma quantia tão pequena do todo

Que a ignorancia lhe salva

Lhe protege, lhe unge de uma sagrada estupidez

O remédio pro medo, pra dor e pro tédio

Mas por que pensar tão pouco de si

E de tudo

Se tudo é tão inconcebível, mesmo se conseguíssemos ver este grande muro de todas as coisas

O rio que nos banhamos é infinito

O amor que sinto pode se ir amanhã

Ou mais tarde

Mas se vai, se esvai

Se some, encolhe

Retorna pra casa

O único lugar que morrerá comigo

Meu único registro.