O Exílio e o Mar: Um Retorno.

O que me resta senão a dor e a sombra?

No peito, a angústia se enraíza, cruel,

E, para iludir-me, minto à desgraça,

Mas sei que, no íntimo, sou réu.

O tempo avança — e sua marcha assombra!

Sinistramente ignoro quem sou…

Sem o mar de Portugal, sem suas ondas,

Ó mar que em outrora minh’alma embalou!

Mar que sangras a terra distante,

Que salgas o chão onde outrora pisei,

Fizeste de mim um estranho errante,

Exilado da terra onde um dia sonhei!

E o grito da saudade que trago no peito

Ecoa no vácuo, vazio, vão.

Confesso, sim, que mereço meu leito,

De miséria e pranto, de eterna aflição.

Fui astuto, e eis meu preço!

Pago em lágrimas meu cruel pesar.

Ó saudade amarga, cruel suplício,

Quem sou eu nesta terra a vagar?

Um pobre mendigo de mãos estendidas,

Um réu sem juiz, um nome ao léu!

Mas não te enganes, terra maldita,

Tu não és mãe, és carrasca e fel!

És velha madrasta de mãos impiedosas,

Que aos filhos nega um mísero pão!

Por tua causa, ó terra enganosa,

Definho em vida sem redenção!

A noite avança… e o relógio sentencia.

Meia-noite! A dor já não suporto!

Eis que rasteja, sinistra e sombria,

A serpente da morte a rondar meu corpo.

Lá vem o verme, voraz e faminto,

Que há de roer minha carne e minha alma…

Mas eis que um clarão rasga o abismo,

E a treva cede à luz que acalma!

Um estrondo! Um clamor! Um assombro!

Vejo, enfim, o meu destino brilhar!

Já não sou estrangeiro, não sou errante,

Portugal me acolhe… volto ao meu lar!

Gabriel Vilar
Enviado por Gabriel Vilar em 09/03/2025
Código do texto: T8281720
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