Nome sem Rosto

Quem és?

— Brada a voz, severa e insondável,

como um eco sem origem, sem fim.

Sussurra, inclemente, na penumbra da razão:

É tarde, não vês?

E eu, sombra do que fui,

luto por romper as correntes.

Quem és?

— A voz retorna, imutável, impassível,

como se as trevas da dúvida tivessem rosto.

Ai de mim, que sou cárcere e réu,

refém do abismo que chamo mente.

Busquei-me e nada encontrei,

senão um nome sem dono,

um vulto sem essência.

Sou alguém—mas que é o alguém,

senão vestígio de um sonho desfeito,

um reflexo partido no espelho do tempo?

Eis-me só,

peregrino na terra desolada do pensamento,

onde a noite não conhece alvorada.

No mais íntimo de meu ser,

sou pedra e cinza,

sou silêncio e sentença,

sou o algoz e o condenado,

a espiral infinita do próprio eu.

Gabriel Vilar
Enviado por Gabriel Vilar em 10/03/2025
Código do texto: T8282099
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