Nome sem Rosto
Quem és?
— Brada a voz, severa e insondável,
como um eco sem origem, sem fim.
Sussurra, inclemente, na penumbra da razão:
É tarde, não vês?
E eu, sombra do que fui,
luto por romper as correntes.
Quem és?
— A voz retorna, imutável, impassível,
como se as trevas da dúvida tivessem rosto.
Ai de mim, que sou cárcere e réu,
refém do abismo que chamo mente.
Busquei-me e nada encontrei,
senão um nome sem dono,
um vulto sem essência.
Sou alguém—mas que é o alguém,
senão vestígio de um sonho desfeito,
um reflexo partido no espelho do tempo?
Eis-me só,
peregrino na terra desolada do pensamento,
onde a noite não conhece alvorada.
No mais íntimo de meu ser,
sou pedra e cinza,
sou silêncio e sentença,
sou o algoz e o condenado,
a espiral infinita do próprio eu.