A Mentira do Poeta
Dizem que o poeta é um farsante,
que joga palavras ao vento,
que ilude a mente dos tolos,
e os faz crer no que não existe.
Sim, eu confesso! Minto em meus versos!
Crio mundos onde não há chão,
dou cor à dor que nunca senti,
faço do nada uma grande emoção.
Os filósofos gritam: “Mentiroso!
O mundo não és como o pintas!”
Mas que sabem eles da alma dos homens,
se vivem presos às frias verdades?
A verdade? Ah, que fardo terrível!
Que âncora arrasta a carne ao chão!
Melhor mentir, melhor fingir,
melhor vestir de ouro a escuridão.
O poeta engana, o poeta finge,
mas não porque quer, e sim porque deve.
Se a verdade pesa, a mentira alivia,
e o mundo precisa sonhar para viver.
Que importa se o verso inventa tristeza,
se o choro descrito jamais existiu?
Se a dor que escrevo não é minha dor,
mas a de um outro que nunca sentiu?
O poeta é um deus que molda universos,
que sopra ventos e faz tempestades.
Se mente ou não… que importa ao mundo,
se em sua mentira há mais que verdades?
E enquanto o filósofo ergue sua lança,
desmascarando o que é ilusão,
eu sigo cantando, fingindo, sorrindo,
pois sei que a vida… é só criação.
Então, que atirem pedras, que me chamem de falso!
Eu aceito o riso, o escárnio, o rancor.
Mas enquanto a verdade secar os espíritos,
minha mentira os fará sentir dor.
E se sentem dor… então eu venci.