Um Suspiro

Beijo o teu rosto, como quem clama por ajuda

Num grito silencioso, abafado na tua pele

No teu corpo, teus cabelos ao vento

Teus olhos me remetem as estrelas

Tão distantes, em outro tempo

Outro ritmo

Pupilas perdidas numa vasta escuridão castanha

O olhar no limiar entre a vida e a morte

O olhar de quem está e não está aqui

É quântico

Teus lábios balbuciam qualquer coisa

Troca de assunto, vira a cabeça

Não nos olhamos no rosto, está perto demais

Ou talvez, distante demais de mim

Ou eu é quem estou longe

Eu acho que te conheço

Eu acho

Ainda

Quem sabe?

Pensava que amar era viver num lindo quadro

Com céu azul-bebê e grama verde-clara

O sol sobre as cabeças, recostadas na sombra de uma grande árvore, ao topo de uma colina

Mas tudo o que tenho nas mãos é tinta

E cada pincelada se parece menos com o que pensei que seria

Uma vez pensei saber

Pensei entender tantas coisas

Te olhava e tinha tantas certezas

Hoje você é o fragmento que restou daqueles sonhos todos

Sonhos bobos

Somos cacos de um espelho

Uma vez te vi e sorri

Queria fazer o mesmo por você

Lhe encher o rosto de alegria

Deixar teus sonhos serem meus também

Mas estamos perto demais

Distantes demais, também

Há muito eu plantei uma semente na colina

Sob uma relva verde-clara e um céu azul-bebê

Todo o dia ela cresce mais um pouco

E eu fico aqui pensando...

Se a sombra dela será minha única companhia.