Adormecir

Ouvindo o barulho da chuva, pra silenciar o barulho dentro de mim.

Contei todos os meus medos aos ventos fortes, na esperança de que eles fossem levados pra longe.

Preparei o melhor sorriso na espera de um possível dia de sol.

Confiei plenamente na calmaria do pós-tempestade.

Agora volto pra cá, pra mesma janela, observando uma falta de paz.

Eu tento ser forte, me alinhando com a força dos raios e trovões.

Me recarrego de corpo e alma, nas águas frias caídas do céu.

E nelas me abrigo, suplicando o colo da paz.

Que seja real, sem devaneios ou máscaras.

Com dias calmos, sem nuvens escuras, só o azul cintilante.

Que me prega a certeza de estar caminhando, no mesmo sentido das águas tranquilas.

Há! Quero sim um descanso, mesmo que seja ligeiro, só eu e o sol às margens dos sonhos.

Breve delírio, pois só me restam as gotas de chuva pra silenciar tantas vozes em mim.

Lentamente, ritimadas, elas caiem na sincronia dos meus pensamentos.

Sem intervalos, uma após a outra, até que tudo seja levado pelas águas.

Todas as dores e angústias íntimas, aquelas insistentes que pareciam ser minhas.

Daram lugar a uma fina e sutil lâmina de luz, que rasga os céus e abre a carne ainda sangrando.

Trazendo de novo um brilho apagado de um entusiasmo raso, nada que traga pra fora o valor e desejo de permanecer.

Apenas fagulhas na superfície de uma alma submersa, ofegante e só.

Que bem devagar, embalada pelos ruídos vindos de fora, sucumbi sem forças.

Adormecir, ouvindo o barulho da chuva que silencia os gritos de dentro de mim.