******* Canto XXVIII – Quando Nasce a Poesia

O nascer do sol será

Mais uma poesia que nascerá.

No olhar de vida que há,

No presente que tudo mudará.

Cada raio toca o chão

Como versos da Criação.

E no peito do caminhante,

Brota um sonho constante.

O tempo é folha ao vento leve,

Que a poesia em silêncio escreve.

Na esquina do instante vivido,

Mora um futuro ainda não lido.

Vejo o Brasil de alma lavada,

Na aurora ainda inacabada.

Um povo de pé, de olhos abertos,

Pisando firme seus desertos.

O verbo se acende na fala do povo,

Mesmo em promessas sem tom novo.

Mas há no grito da multidão

A semente de uma canção.

Há poesia no chão de barro,

No gesto simples, no passo raro.

Há poema na luta sofrida,

Na mesa vazia, na fé renascida.

O país não cabe num retrato,

É mais que o erro ou o boato.

É gente que ama, resiste e sente,

É pátria viva, latente e crente.

Quando nasce a luz do dia,

É Brasil que volta à poesia.

Na dor que grita e no amor calado,

Há um Brasil ressignificado.

E se tudo insiste em ruir,

A palavra vem reconstruir.

Pois onde há poema e oração,

Há alicerce em cada mão.

O sol nasceu. O verso também.

O Brasil renasce além.

Na esperança que se avista,

No poema que ainda persista.