***** Canto XXVIII – O Brasil Urgente e a Vila do Começo
Em nosso Brasil urgente,
o tempo clama por memória,
pois o passado é semente
do que floresce na história.
Na vila de São Vicente,
um gesto simples, quase esquecido,
foi brasa ainda incandescente
do Brasil não adormecido.
Ali, o povo escolhia,
não reis, nem tronos de poder,
mas quem, com sabedoria,
iria o bem comum defender.
Foi o embrião da democracia,
entre os mares e o sertão,
antes que a palavra “utopia”
ganhasse voz na nação.
Era o início de um caminho
feito de erros e esperanças,
de um Brasil sem pergaminho,
mas com fé nas suas crianças.
Votava-se à luz do dia,
num rito de descoberta,
quando a liberdade nascia
sem saber que era desperta.
E hoje, em nossas cidades,
em meio à pressa e à violência,
o grito por dignidades
nos chama à consciência.
Pois não basta só lembrar,
é preciso recomeçar,
com coragem de escutar
o que a história vem mostrar.
São Vicente nos relembra
que o Brasil tem fundações,
que a justiça, mesmo tênue,
pode crescer entre os sertões.
Mas é urgente cultivar
o direito de escolher
sem deixar se corromper
pelo medo de sonhar.
A eleição foi instrumento,
não de um rei, mas do povo,
e é nesse exato momento
que precisamos de um renovo.
Não há pátria de verdade
sem ouvir o coração,
sem buscar, com liberdade,
o valor da decisão.
Que a política não seja
palco só de ambição,
mas serviço que proteja
quem mais sente a solidão.
Na vila que nos fundou,
plantou-se mais que estrutura:
plantou-se um Brasil que sonhou
viver além da clausura.
Em nosso Brasil urgente,
precisamos de memória viva,
de um passado que alimente
nossa alma combativa.
Pois se um voto já valeu
em 1532,
que valha agora, no céu
desses dias que são leis.
Erga-se a vila esquecida
como símbolo do começo:
um Brasil que busca a vida
sem perder o recomeço.
São Vicente não morreu —
permanece em nossa história,
como um marco que nasceu
pra iluminar nossa trajetória.
Poeta Mbra