Diferenças

Em qualquer berço efêmero

Há um gemido sem gênero

E de rota influência

De porquês sem sentido

E o que mais tem ruído

É a humana consciência

Prefiro o sol me tornando em cinzas

Ou derreter meu corpo n’água

Como lesma no sal

A negar a legitimidade indissoluta

Da minha condição imortal

Beber de ratos

Ou de carne já morta

Do que ater-me a fatos

E verdades impostas

Do parapeito eu vejo o gado

Pronto pra obedecer

E caminhar prostrado

Olho pra mim e cá do meu lado

O que me difere do gado

É a imagem em meu espelho

Quanto aos malditos

Que tentam me destruir

Mórbidos vizinhos cheios de preguiça

Sua paz é o meu ruir

Sua aprovação

Não é meu objeto de conquista

Os vermes e a podridão

Que guardam seus muros

Tiraram-me o sono pela última vez

Morre desgraçado

Na angustia de sua incapacidade

E no auge da minha eternidade

Estarei bem longe de ti

No teu dia mais funesto