AMOR OU ÓDIO

Vi cada folha de outono caírem ao chão

Vi minha serenidade sem qualquer proteção

Num mundo perfeito onde não existia vilão

E aos sete anos vi meu mundo parar

Uma angústia e um pavor me aperta o peito

Se acentua ainda mais quando na cama me deito

No escuro do meu quarto ali me rejeito

O vazio em minha alma parece me matar

Quero contar mas não tenho coragem

Relembrar os momentos daquela passagem

Recordar sem carinho aquela imagem

É mexer na ferida que me causa dor

E calada aqui no meu canto

Muitas vezes me causa espanto

A frieza do corpo sem um manto

E a beleza que não tem mais cor

O desabafo é minha única saída

Para levantar essa face caída

Dessa minha vida abatida

Que um dia pretendo esquecer

Ele era meu porto seguro

Mas foi num quarto escuro

Que no meu corpo prematuro

As mãos deles me fizeram tremer

Um dia me tirou a blusa

Me deixou ainda mais confusa

A mão que proteje também abusa

Meu choro implorava piedade

Chorei, implorei, quis ir embora

Mesmo assim o tempo demora

Meu Deus o que faço agora?

Escondo mais, ou, conto a verdade

A culpa era mais que o medo

Para contar esse triste segredo

E acabar de vez esse enredo

Que me destruia inteira

Um dia me veio a coragem

Para ela pedi angoragem

Mas me disse que era bobagem

E que havia pensado besteira

Enfim o tempo passou

A minha idade chegou

Ela dele se separou

E a resposta ainda não veio

Apesar de como tenho vivido

E de tudo que tenho sofrido

Com meu coração bem partido

Oh, meu pai! Eu te amo ou te odeio?

Paulo Roberto Fernandes
Enviado por Paulo Roberto Fernandes em 25/03/2018
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