Tempo, eterno tempo
Não reclamemos da falta de tempo,
pois ninguém o possui de fato;
sua imaterialidade infinita
não lhe permite a captura
e é por isso que na verdade
nós é que passamos rápido
e ele é que fica eterno a continuar
ele é que nos possui
ele é que nos prende
e nos liberta.
Não há, portanto,
escassez de tempo,
há, sim, incompetência em administrá-lo,
há, sim, ganância em querer mais
do que a mão pode pegar,
em querer mais distância
do que o passo pode percorrer,
em querer mais luz
do que os olhos podem suportar.
Não queiramos, então,
remar contra a maré do tempo
e construamos nosso barco
de acordo com o nosso tamanho
porque o tempo,
ao contrário da maré,
apenas vai,
em uma só direção.
Não temos como ganhar tempo
do tempo,
o efêmero não vence a eternidade,
mas não desiste de enfrentá-la
porque se acredita perene
sem consciência muitas vezes
de que perene é sua própria finitude.
Não importa se fechamos
ou se abrimos as mãos,
o tempo é areia que entre os dedos
fatalmente escorre,
independente da nossa vontade
em domá-lo.
Não percamos tempo em persegui-lo,
porque não podemos alcançá-lo
e para não sofrermos com o desencanto,
diminuamos o passo
e o ritmo até o essencial.
Não brinquemos também com o espelho,
pois a inexorabilidade do tempo está ali
e, impassível,
não nos deixa enganar.
O que nos resta afinal das contas
é apenas passar o tempo
sem perdê-lo nem ganhá-lo
porque só há nosso fim provisório
e não o fim dos tempos;
pois o que é Divino é infinito e atemporal.
Cícero – 03-10-2013