Tempo, eterno tempo

Não reclamemos da falta de tempo,

pois ninguém o possui de fato;

sua imaterialidade infinita

não lhe permite a captura

e é por isso que na verdade

nós é que passamos rápido

e ele é que fica eterno a continuar

ele é que nos possui

ele é que nos prende

e nos liberta.

Não há, portanto,

escassez de tempo,

há, sim, incompetência em administrá-lo,

há, sim, ganância em querer mais

do que a mão pode pegar,

em querer mais distância

do que o passo pode percorrer,

em querer mais luz

do que os olhos podem suportar.

Não queiramos, então,

remar contra a maré do tempo

e construamos nosso barco

de acordo com o nosso tamanho

porque o tempo,

ao contrário da maré,

apenas vai,

em uma só direção.

Não temos como ganhar tempo

do tempo,

o efêmero não vence a eternidade,

mas não desiste de enfrentá-la

porque se acredita perene

sem consciência muitas vezes

de que perene é sua própria finitude.

Não importa se fechamos

ou se abrimos as mãos,

o tempo é areia que entre os dedos

fatalmente escorre,

independente da nossa vontade

em domá-lo.

Não percamos tempo em persegui-lo,

porque não podemos alcançá-lo

e para não sofrermos com o desencanto,

diminuamos o passo

e o ritmo até o essencial.

Não brinquemos também com o espelho,

pois a inexorabilidade do tempo está ali

e, impassível,

não nos deixa enganar.

O que nos resta afinal das contas

é apenas passar o tempo

sem perdê-lo nem ganhá-lo

porque só há nosso fim provisório

e não o fim dos tempos;

pois o que é Divino é infinito e atemporal.

Cícero – 03-10-2013

Cícero Carlos Lopes
Enviado por Cícero Carlos Lopes em 04/10/2013
Reeditado em 28/11/2013
Código do texto: T4510538
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.