Poema noturno

O vento ruge nas janelas.

Lá fora, a Lua está ao alcance das asas,

E as árvores gemem em pálidas folhas.

Cá dentro, Raimundo ressona,

Sem rima, sem vastidão,

Inexistente em sua lágrima.

Os óculos repousam sobre o criado-mudo,

O violão guarda a magia dos dedos nas cordas, e

Os fios brancos descansam no travesseiro peludo.

O crocitar da coruja emana das árvores que gemem

Pela noite, naturais como o próprio ar,

Ardendo hegemonicamente como ninguém.

As estrelas caem em brilho

Enquanto Raimundo, vazio,

Venda profundamente seus olhos.

A realidade o havia contaminado

Com seu furor pragmático, e

Seu calor intrínseco havia partido.

Dorme Raimundo com seu esquecimento,

Próprio dos sonhos frios de ascensão capital,

Dentro de lençóis gradeados por desolamento,

Enquanto a noite envolve as almas cândidas

Com seu lúgubre invólucro angelical,

Fazendo a poesia penetrar as veias através das estrelas.

*Texto classificado entre os quinze melhores do VII Festival Aberto de Poesia Falada de São Fidélis-RJ.

Ronaldo Junior
Enviado por Ronaldo Junior em 27/09/2015
Código do texto: T5396034
Classificação de conteúdo: seguro