Monólogo do dinheiro
Guia-te por mim
E eu desvio-te dos teus caminhos.
Vives por mim
E eu mato em ti a vontade de buscar-te.
Lutas por mim
E eu abandono-te à própria sorte.
Morres por mim
Enquanto faço nascer-te o desejo de mais querer-me.
Matas por mim
E eu avivo em ti a egoísta satisfação de possuir-me.
Procuras por mim.
Trabalhas por mim.
Esperas por mim.
Multiplica-me para ti,
Subtraindo-me de outrem para teu bel prazer.
Idolatra-me acima de ti e mesmo acima de Deus
Pensando assim seres meu único senhor.
Tolice!
Sou eu que te governo a mente, o corpo e a alma.
Sou eu o teu algoz salvador
E te faço refém de meus poderes neste mundo podre.
Pensas enriquecer-te quando me possuis em abundância
Mas na verdade, te empobreces a cada vez que me enalteces.
Sou o mal necessário que criaste
E a cujas tentações nem sempre resistes.
Imaginas que a tudo podes comprar oferecendo-me,
Porém, pobre de ti!
Vendeste-me tua alma, tornando-te meu eterno refém.
E não cumpre a mim libertar-te.
Cabe a ti livrar-te de teus excessos de ganância
Deixando-me apenas para o que for necessário,
Pois afinal de contas, no final das contas,
Eu cá permanecerei
E tu... Bem...
Tu partirás e apodrecerás
Sem que, por ti, nada eu possa fazer.
Cícero – 07-12-2015