DIÁLOGO ÍNTIMO

Pesa-te o fardo

que sobre os ombros estás a carregar?

Cansa-te

e sobre a terra cai com os joelhos dobrando?

Faltam-te forças e coragem

mesmo para a cabeça levantar?

Choras e amaldiçoas a vida que estás agora a levar?

Sim! Pesa-me, pois nem sei o porquê de tanto fardo

Sim! Canso-me,

pois não sei desde quando nem mesmo de onde

Trago o peso que carrego

e por isso forças e coragem não guardo

E assim choro, sem amaldiçoar,

porque parece que algo se esconde.

Nada se esconde,

tu que não te lembras do acordo feito

Antes de a este mundo tiveres de vir a permissão

Portanto, acalma este teu triste, aflito

e humano peito

Porque ainda tens muito o que cumprir

de tua missão.

Falas como se fosse fácil suportar tanta adversidade

Como se não machucasse

tropeçar nas pedras do caminho

Falas como se fosse fácil

perseguir inutilmente a felicidade

E colher, entre tantas belas flores,

maior número de espinho.

Controlas tua raiva,

pois de teu livre arbítrio fizeste uso

tiveste, dentre as dádivas divinas, a mais preciosa:

a Vida

agora, que culpa há em mim ou noutrem

se o teu abuso

Foi o maior causador de teus tropeços

e de tua ferida?

Mas de tantas agruras que passo

não entendo o motivo

E confesso que isso por vezes tantas é que desanima

Fazendo a alma querer libertar-se

da matéria em que vivo

Gerando o sofrer de uma existência tão ínfima.

Basta! Chega de tamanhas e inúteis lamentações

É hora de despertar em ti parte de tuas lembranças

Quem sabe revivendo

as tuas antiquíssimas sensações

Possas compreender o teu presente

e voltar às esperanças!

Muito do que nesta vida a ti é escasso

É porque em outra não dividiste a fartura

E cego pela ganância, caíste da soberba no laço

Que te fez perder a humanidade e a compostura.

Rejeitaste, outrora, o que agora tu tanto queres

Deste passos maiores

do que poderiam teus pés alcançar

por isso agora o medo com que tanto te feres

E os amigos, que poucos tens,

é porque dantes não soubeste valorizar.

Chega, pelo amor de Deus!

Não estou pronto para o resto ouvir

Entendo e aceito o meu papel de ser em construção

Não quero mais nenhuma dívida

com a eternidade contrair

E aos que em débito fiquei,

faço o meu pedido de perdão.

Sábia decisão tomaste ao reconhecer teus enganos

Não queiras retardar ou antecipar

o que não pode ser

E procuras eliminar os teus rompantes tão humanos

De ansiedade e de autopunição,

pois tudo tem a hora certa de acontecer.

Não te esqueças, porém,

de que esperança não é esperar

Muito menos de que o perdão

não nos exime das responsabilidades

Por nossos falhos atos,

mas que amortiza o saldo devedor

Se aliado com a correção

sincera de nossas disparidades.

Cícero – 03-07-2017

Cícero Carlos Lopes
Enviado por Cícero Carlos Lopes em 04/07/2017
Reeditado em 12/12/2017
Código do texto: T6045738
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.