O canto do cisne

Eu que na vida inteira fui um pato

Em um viver discreto, uma neblina

Ouso ao final deixar breve relato

Pra despedir-me feliz nessa poesia

Dizem que o cisne possui um canto

que é tão maravilhoso que hipnotiza

mas esse seu cantar cheio de encanto

só revela no fim, quando já agoniza

Eu não tenho assim tal predicado

E se alguém me ouvir eu agradeço

Entrego o meu cantar desafinado

dispenso as palmas que não mereço

Não deixo grandes obras, nem pegadas

Sou simples, como simples é a maioria

E ainda aqui e acolá, umas derrapadas

Que espero não turvar minha travessia

Infância bela no alto das mangueiras

Correndo atrás de pipas e estilingue

Curtindo ao sol, saudosas brincadeiras

Que a gente quer reter e não consegue

Mas o tempo passa e a vida segue

As coisas de crianças são deixadas

E vem a juventude e assim prossegue

Trazendo o tempo bom das namoradas

Até que uma especialmente amada

Enlaçou-me o coração com nó dobrado

Quando percebi já estava apaixonado

E unidos então trilhamos a estrada

Os filhos foram dois e dois moleques

Cresceram e hoje vivem suas vidas

A partir daí a vida perde os breques

E o tempo torna minutos em milhas

O meu cabelo e a barba estão grisalhos

Meus braços já não têm o mesmo vigor

O passado às vezes volta em retalhos

Cada um deles uma expressão de amor

Nesse momento meu canto apresento

E com o cisne melhor sou distinguido

Canto de amor, alegria e agradecimento

E volto a Deus, meu Senhor e meu amigo

Kleber Versares
Enviado por Kleber Versares em 14/12/2017
Reeditado em 18/12/2017
Código do texto: T6198874
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