O canto de um bardo

Sem sabor

Mastigo o meu intimo

Nestes dias escuros

Sem escolhas

Como um pobre arrimo

Para fora dos muros

Dias de mau humor

Transpiram nos passos apressados

Pelas calçadas

Dias de temor

Nos faróis cansados

Pela insegurança.

A noite chega

Em cápsulas receitadas

Por mãos descrentes

A alma cega alimenta-se

Em prateleiras abandonadas

Com livros doentes.

A criatividade

Segue o manual

De instrução

A objetividade

É animal

E sem noção

Solitários,

Altistas

E urbanos

Obituários

De artistas

Fazem-te humano

Por lágrimas

Exprimidas como espinhos

Num rosto triste

E amargo

Por páginas

Como moinhos

Que resistem

Como um bardo.

Henrique Rodrigues Soares – Pra Fora/Por Dentro