Quando escrevo

Quando escrevo não sou só.

Me multiplico, me somo e as vezes me divido,

mas quando escrevo deixo de ser só

pra ser várias, várias de mim mesma...

E essas várias moram em mim

existem em mim, nas profundezas do eu.

Olhando assim, já posso dizer que não sou só

tenho as várias, e as várias me têm.

Quando escrevo me entrego, me revelo,

me dou, me relaxo...

Quando escrevo sou só eu...

Deixo a métrica, afasto-me das regras

ou escolho segui-las.

Me dispo da gramática, da lógica, das normas.

Fico nua, fico crua, fico seca, fico áspera.

Fico também entregue, vulnerável,

aberta e ao mesmo tempo fechada.

Me deixo ficar exposta, estendida,

largada com ou sem rima

no meio desta lacuna que chamamos de vida.

Quando escrevo me desprendo, me esvazio,

mas também me encho.

Deixo que as palavras saiam,

mas também deixo que preencham.

E assim elas falam e também calam.

Voam e vão pousando em um papel qualquer...

Deixando por aí os pedaços

do que sou de mim quando deixo escrito meu coração

em um punhado de almaços.

Miriã Pinheiro
Enviado por Miriã Pinheiro em 27/04/2018
Código do texto: T6320182
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