Umbigos divergentes

A panela vazia

O bolso esvaziado

0 umbigo cruel e irônico

Rindo da própria mazela,

Um lampejo de amor

No último olhar profundo;

Profunda dor

Profunda miséria

Avistada de uma janela insólita.

A panela vazia maculou o silêncio

Tantas vezes desaforando políticas

Enquanto um infeliz rebento

Perambulava as calçadas frias.

Um umbigo cruel e irônico

Prevalecia na janela "clean"

E a calçada suja,

Ângulos opostos de umbigos divergentes.

Na torre ímpar entre outras pares

Uma varanda ampla e arborizada

Uma beleza incompleta

Faltava-lhe humanidade,

Vistes o corpo franzino esmolando migalhas?

Na calçada de pedras bonitas

Respinga do alto uma ignóbil frieza,

O umbigo cruel e irônico

Chafurdava sobre a pobreza

E a visão da favela ao derredor,

A janela perfumada,

Jasmim, lavanda, nobres charutos,

Odores diversos,

Conversas frias, gélidas reações.

Sandro Colibri
Enviado por Sandro Colibri em 15/04/2019
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