Memórias III
Aprendi, que nunca nos esquecemos
Do que ouvimos, do que apreendemos
Do que não vimos, mas assistimos
das palavras, dos gestos e dos olhares
Dos afetos sinceros e dos desafetos
crueis, guardados secretamente na mente
das atulhadas e empoeiradas gavetas
Da memória, desde a mais tenra idade,
e se idade a tivermos.
Foram tantos os ventres que desventramos,
abortados, paridos, já partidos,
putrefactos mas vividos
Até ao fatídico momento do agora
Quando ainda ressoa o silêncio nesta hora
No eco dos pensamentos idos, ora aflorados
como sementes esquecidas no deserto
De outrora e presentes sem hora de partir.
Antonio Noronha 19