Versos Pandêmicos

O momento exige vigorosas flores,

Nos buracos dos asfaltos,

Nas rachaduras das paredes,

Nas ruínas, que só habitam as pedras.

Espelhos rachados corroí as cores.

Forja o que vemos em percalços.

Enche de sal um copo de sede.

Reflete a sombra da luz em queda.

Tantos teatros de maus atores.

Que desabem imundos palcos!

Vaio a cena das mãos de foguete.

Aplaudo o alvo sem veneno na seta.

O momento exige favores.

Onde há doença existe um laudo.

Talvez no uso de um óculos com outra lente,

No flerte das dores, o outro enxerga.

Afinal, em que mundo se percebe as dores?

Discutir o que sinto me torna incauto.

Se me deito na cama doente,

Curo-me em sonhos, pra viver o que presta

Esse mundo de tantos caçadores...

Vive-se em soluços e sobressaltos.

Digerir pedras, no coração cria dentes.

Quero música e não um som de alerta.

Nas sombras, não se vê vencedores.

Nessa tempestade em mar alto,

Descer a âncora com seu braço de corrente,

É se afogar no oceano de palavras desertas

Pisar nos espinhos é lutar para colher flores.

O caminhar se faz com pés descalços.

Fortaleço, agora, os vãos com ramalhetes

O muro, cravado de tiros, pariu janelas

Naldo Coutinho
Enviado por Naldo Coutinho em 04/02/2021
Reeditado em 04/02/2021
Código do texto: T7175995
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