Sempre morreremos!

São as horas da noite que nunca descansam.

Ainda tu estás como sempre te vimos,

Sem tirar o teu gesto corriqueiro!

Ainda és apenas um entre bilhões,

Que esperam e ficam sempre alheios.

Ainda não podemos te elevar à fria luz da lembrança,

Ainda não podemos tocar o ido sem uma lágrima,

Nem uni-lo ao futuro já dentro do instante passado

Onde teu ser ocupará o teu lugar em algum retrato.

Ainda podemos tocar-te com estas mãos,

Feitas de carne, ternura e perdão.

Ainda és descoberta e movimento

Ainda és um não viver vivendo,

Mas em breve todos nós teremos partido,

E nas ruas as luzes dos postes estarão acesas.

Morremos frágeis como as flores morrem,

Mas não há consolação nesta morte intensa,

Pois dói no sangue o veneno das horas tensas,

E morreremos no chão, individualmente,

Como a terra explorada incansavelmente.

Quando o sereno da noite escorregar nas vidraças,

Faleceremos como as águas tristes e caladas

Ou como as folhas secas pisoteadas pelos sapatos.

Também morremos altos como as montanhas solitárias,

Sozinhos como a luz sobre todos esses mares infaustos,

Como o amor sempre atento ao desejo do vento.

E morremos infelizmente, sempre morreremos “amados”,

Como os objetos sem alma que nos olham calados,

Os objetos desejados e gastos pelo uso e esquecimento,

As formas de se viver endurecidas em nosso cotidiano,

Os abraços que se alargam e depois se perdem pelos cantos.

Enfim, tudo o que é secreto como a dor reprimida

E que também certamente morrerá um dia,

Morrerá de morte tão torpe e definitiva

Quanto a que morremos em todas as horas não vividas!

"O coração do sábio está na casa onde há luto, mas o dos tolos, na casa da alegria."(Eclesiastes 7:4)

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 06/02/2021
Reeditado em 06/02/2021
Código do texto: T7178062
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