Sonho eterno

Sem asas, eu voava pelo céu
junto aos meus sonhos bons, sem pesadelos.
Não sei o que eu fiz pra merecê-los,
mas penso que os ganhei como troféu.

É que eu sonhava tudo o que podia:
o amor, o ódio, a luz, a escuridão...
um mundo, que coubesse em minha mão,
e outro que coubesse na cotia.

Sonhava Deus, um poço de bondade,
pronto a ralhar do céu, quando preciso.
Sonhava construir o paraíso
num terreno baldio da cidade.

Sonhava um grande amor: uma menina
de saia branca, solta e pregueada,
que tão feliz por ser a minha amada,
já bolinava a alma feminina.

Sonhava um sonho lindo e de verdade,
feito de amor e riso, e de brinquedos...
capaz de deixar em paz todos os medos
e as crendices comuns da minha idade.

Um dia eu acordei não mais criança
e o sonho deu lugar ao pensamento.
Fatídico tal dia, inda lamento
não tê-lo excluído da lembrança.

Sem asas já não voo desde então.
Não há terreno baldio na cidade.
Secou-se aquele poço de bondade
e o mundo já não cabe em minha mão.

Os meus brinquedos, todos, onde estão?
Nem sei se ainda tenho algum brinquedo!
Não sei se já é  tarde ou se é cedo
pra imaginar que tudo foi em vão.

Onde será que está minha menina
de saia branca solta e pregueada?
Nem sei se ainda sonha acordada,
a bolinar a alma feminina.

Sem asas só me resta o coração
aprender a voar, e só então
compreender que o sonho não termina.
Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 25/08/2021
Reeditado em 25/08/2021
Código do texto: T7328333
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