CONVITE À ESPERANÇA

A esperança circula muda
- a cada segundo -
entre muros que cintilam
lanças de cacos de vidros.
Na vida rareiam afetos,
ter um teto e saciar a fome
é coisa doutro mundo.

[a vida é mais que uma rima,
é luta]

A esperança circula,
agoniza sob máscaras,
nas filas e nos leitos.
Ela se finda quando se sente
a contragosto a pólvora no peito.

[a vida é pedra rara a lapidar,
é coisa bruta]

A esperança circula,
é cor e luz solar
na força da negritude,
nas mãos que se entrelaçam
no gesto da atitude.

[a vida é esperança redimida,
se define na labuta]

A esperança circula
- é vida! -
mesmo muda,
pula os muros com cacos de vidros,
desfila sangrando pelos becos e ruas,
quase desnuda.


(Imagem: Desenho de Shamsia Hassani)