DEVANEIOS DO INFINITO
No véu étéreo da madrugada errante,
onde a mente é nau e o tempo, oceano,
dança nas sombras de um sonho distante,
eterna essência fugidia dos ciganos
Sou estrela que se desfaz em ecos e poeira
Um sopro de voz na brisa esquecida,
um deus enclausurado na própria cadeia
arqueiro cego, flecha certeira e perdida
Temo o abismo que em mim habita,
um eco surdo mudo do não-vívido
promessas feitas de alquimia extinta,
e o medo profano de nunca ter sido.
Mas eis que ergo meu próprio império,
onde o real curva-se ao nal devaneio,
sou rei de mim, senhor do meu mistério,
sou luz que rasga nuvens nas nuvens.
Sou espelho e meu reflexo difuso,
interrogação final que o tempo desfia,
vasto e finito, de um grão inconclusivo,
raro destino caminhar na mesma via.
se o impossível me sussurra o fim,
respondo contente num riso insano:
Se o sonho é prisão, sou alma em fuga,
sou dono do tempo e o próprio arcano.