O amor e o Século XXI
Relação que vem sem aviso,
Fumaça doce de ilusão,
Promessa em tom indeciso,
Com gosto amargo de paixão.
Cuidado com o que reluz,
Nem todo brilho é sincero.
Sorriso às vezes conduz,
Ao disfarce mais austero.
Há ruídos por todo lado,
Na tela, na rua, no olhar —
Distrações por todo canto
Que poluem o amar.
Caneta e papel esquecidos,
Guardam saudade e memória.
Hoje os gestos comovidos,
Viraram relíquias da história.
Sentir, pra poucos, é arte.
Pra muitos, não basta, é vaidade.
Querem tudo — e de toda parte —
Mas vivem vazios da verdade.
Na pressa de ter o mundo,
Perdem o chão, o abrigo.
Ficam sós no vão profundo
Do afeto não correspondido.
Mas se for amor de verdade,
Este não some com a madrugada.
Permanece, com liberdade,
E preenche a alma sem disfarce.
Se durar o dia seguinte,
Sem promessas, mas inteiro —
É porque alguém, consciente,
Lutou, te buscou e
Te encontrou,
Por ser verdadeiro.