Subsolo

Parece que carrego

todas as dores do mundo.

Vazios e excessos

que não consigo decifrar,

tampouco preenchê-los ou arrancá-los.

Me desatento,

como folha que dança ao vento

enquanto pragas a condenam. 

Olho para cima, mas estou retida

entre os galhos do tempo.

Procuro a trégua da espera

ouvir dizer que ela enxerga

além das frestas

da densa floresta.

Há forças sutis nas raízes.

O subsolo suga a superfície,

nutre-se, entrega o que resta

e, às vezes, nega-se a curar.

E, por eu adoecê-las,

elas escolhem me cortar.

Cair não tira marcas.

Despedaço ao toque das águas,

ou torno-me seca

pelo calor da presença alheia.

Sobra vazada envenena;

é carinho suave

que golpeia.

Componho o amontoado,

das folhas jogadas ao alto

pelas mãos do menino.

Pedaços pisados,

entre os que já foram inteiros —

brinquedos do destino.

Posso sentir o que não tenho,

pois um dia tive.

Tenho o que não quero,

porque cavaram e jogaram

o que eu nunca quis. 

Sou o que fizeram de mim,

não o que nasci para ser.

Meus frutos, onde estão?

O aroma não exalei,

a beleza não revelei,

o sabor doce não produzi,

apenas... vi.

De tanto olhar

pra onde a natureza parecia perfeita

não percebi

quando me perdi

e deixei de fazer parte da árvore —

ou ela deixou de fazer parte de mim?

Ig: @ondas.depalavras

stellarr
Enviado por stellarr em 24/05/2025
Reeditado em 25/05/2025
Código do texto: T8340292
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