LÁGRIMAS DO UNIVERSO

Ela vem chegando devagar... Quase como um nada.

Mas, é o suficiente pra me maltratar.

Percebo-a antes mesmo da trovoada,

quando meu peito se desmancha em mil pedaços.

Aborrecida, sem ter o quê fazer, eu fico ali parada

sentindo a frouxidão dos meus próprios espaços.

Até que começam os primeiros clarões...

E com eles vem essa tristeza desesperada!

Então, aspiro o ar enchendo os pulmões

com o cheiro da terra molhada... E quedo-me ali,

resignada.

Porém, percebendo o quanto me aborreço,

a rima vem assim, num desafio,

oferecendo-me todos os afagos e abraços

que eu nem sei se mereço...

Por isso, suspiro buscando um lenitivo.

Mas, numa inquietude extrema, vou sentindo

um calafrio que percorre meu corpo inteiro!

E até o poema me soa cansativo...

Agora, como se zombando de mim,

a tormenta grita que estou em cativeiro.

E em outra tentativa, olho pra calçada

pra ver se no meio do aguaceiro

encontro as igrejinhas dos pingos da chuva...

Mas, que igrejas pode ter essa desalmada

que me deixa assim tão viúva?!

Nessas horas me questiono

se será esse o meu fim:

um total e completo abandono...

A chuva são as lágrimas do universo

que, num momento de intenso desvario,

provocam uma avalanche em mim,

pra derramarem-se assim num verso...

Triste e inundado do meu vazio.