Fim de tarde

Nossos sonhos (que eram tantos)

Morreram num fim de tarde,

E um triste adeus, sem alarde

Consumou a despedida;

Uma lágrima sentida

- prenúncio do desenlace -

Correu na lívida face

À procura de guarida.

Embriaguei-me em seu corpo

Co'o licor da juventude,

Em troca, dei-lhe o que pude:

Carinho e experiência;

Embalei com paciência

Seus sonhos primaveris

E, sem saber, fui feliz

Suprindo nossas carências.

No furor das tempestades

Sequei com risos seu pranto;

Dos beijos fiz acalantos

Para as frias madrugadas;

Dos braços fiz a enseada

A esse barco peregrino

Que navega sem destino

Com as velas enfumadas.

Perdura ainda em meu peito

O calor dos seus afagos,

E em minhas mãos inda trago

A maciez de seus seios:

Alva taça dos anseios,

Reduto de meus desejos,

Lira carente de harpejos,

Vertente de devaneios.

Hoje somos dois estranhos,

Trilhando o mesmo caminho,

Bebendo do mesmo vinho

Que co'o tempo envelheceu;

Não fui eu quem a perdeu

Ela sim, se houve alguém;

Só perde aquele que tem

E ela...jamais me pertenceu.

Jorge Moraes - Livro: Quando os sonhos ganham asas

Jorge Moraes
Enviado por Jorge Moraes em 29/01/2010
Código do texto: T2057582
Classificação de conteúdo: seguro