Mãos vazias

Queria dar-lhe um regalo

Que expressasse o meu apreço,

Julgando que um adereço,

Talhado em raro lavor

Fosse um tributo ao esplendor

De seu rosto pequenino;

Confesso, foi desatino,

Ou talvez ingenuidade,

Pois as joias de verdade

São seus olhos turmalinos.

Pensei em dar-lhe uma estrela

Com seu brilho fulgurante,

E mesmo estando distante

Esforços não mediria,

E num pégaso a traria

Mais veloz que o próprio vento;

Ó delírios do momento,

Tão comuns entre os mortais:

Pois seus olhos luzem mais

Que estrelas no firmamento.

Pensei em dar-lhe um bouquê

Com lindas rosas vermelhas,

Ardentes como centelhas

Desde amor que lhe devoto;

Porém, de imediato, noto

Que as rosas perdem o vigor,

O rubro cede ao palor

Neste gesto feito a esmo,

Pois é uma imprudência, mesmo

Dar flores a outra flor.

Por fim, trago as mãos vazias

Sem saber o que fazer,

Restando-me oferecer

Meu inquieto coração;

Impulsos de uma paixão,

Como contê-los não sei!,

E dá-lo não poderei

Pois lembro, perfeitamente,

Que ao calor de um beijo ardente

Meu coração lhe dooei.

Jorge Moraes - Livro: Quando os sonhos ganham asas

Jorge Moraes
Enviado por Jorge Moraes em 02/02/2010
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