Penitente

Vi a ti imersa na escuridão,

e não sabia se era um sonho,

não sabia se ao tentar tocar teu ombro,

tua silhueta fosse se desintegrar no ar,

talvez me deparasse com um fantasma,

uma assombração atemporal,

mais um delírio de uma noite insône,

uma alucinação de um espírito solitário,

e afinal era apenas uma miragem no deserto,

numa aridez de sentimentos recíprocos,

sangrando a alma à cada batida de horas,

na intensidade de uma dor sem cura,

entorpecida às vezes por uma taça de vinho,

contornada por tolos desabafos em versos livres,

embriagadas palavras torrenciais atormentadas,

quando minha vida é priosioneira de meus passos,

enquanto tento encontrar uma razão para continuar,

rabiscando pensamentos desconexos em vão,

memórias e esquecimentos de uma pálida existência,

penitente que estou à esperar de ti qualquer ligação,

atualizando o email há cada minuto e meio,

sabendo que no final não haverá nada como ontem,

a caixa permanecerá vazia como anteontem também,

mantendo um ritual absurdo de uma espera infinita,

andando em círculos para jamais sair do mesmo lugar,

quando sequer sei se ainda estás viva, respirando, lembrando...