Insolente

Está chovendo em minha solidão.

É sempre sinestésica a chuva:

tem o som, o cheiro, a umidade...

Levanto e vou à janela conferir

a cor da chuva e o vento usa uma árvore

para me fazer um aceno.

Uma criança brinca na rua na chuva.

Brinca na lembrança. Sou eu mesmo!

As gotas fortes não têm pena

das folhas nem das flores mais frágeis;

não têm pena de melancolia.

A chuva não liga se quero estar só

ou se a solidão foi um acidente:

ela cai e me traz companhia.