Presságios melhores

Quem sou eu?

Quem és tu?

Quem somos nós fora do contexto?

Usamos máscaras para sobreviver,

armaduras do sentido contra a psiquê,

para sermos fortes quando estamos frágeis,

para sorrir quando só há lágrimas nos olhos,

para seguir em frente quando queremos paralisar,

para estar na multidão quando só há solidão na alma,

e você quer saber quem sou?

e você quer respostas para questões aleatórias,

quando a vida somente chega e se esvai na areia do tempo,

não importa onde vás, estaremos sempre atados à essa tristeza,

então, talvez devesse perguntar de onde vem essa dor?

porque precisamos racionalizar sentimentos complexos?

porque temos que sufocar gritos de socorro?

quando seria mais fácil apenas sentar na praia e ver as ondas,

esperando o pôr do sol trazer a calmaria interior,

tingir de cinza o vermelho fogo que queimou tudo,

quando achávamos não existirem mais esperanças,

por isso, não me pergunte quem sou...você sabe.

Sou o manto de sombra que precisa de uma adaga de luz,

sou mais que as cicatrizes em meu espírito tão machucado,

sou distinto de cada um com quem esbarres nas esquinas da vida,

sou o silêncio em meio à gritaria das semanas invernais,

sou um sopro de ar quando tudo parece claustrofóbico,

sou a imperfeição na perfeição de erros acertados,

dedilhando uma música melancólica num sábado à noite,

sou as palavras das quais necessitas quando não há mais nada,

sou o alento quente para o frio que congela teu coração,

sou a última taça de vinho tinto à trazer alívio no desespero,

sou demasiadamente humano ao ponto de me cortar e sangrar,

sou o assobio do destino sobre teus ombros incontestes,

e se nada disso é suficiente para te dizer o que importa,

então talvez devas mesmo ir embora sem olhar para trás,

talvez devas procurar em outros mundos, em outras vidas,

esquecer minha vã existência espectral entre brumas,

atirar tua sorte na moeda que cai no fundo da fonte dos desejos,

esperar que o futuro te traga presságios melhores...