O Coração do Oceano

Meu coração perdido, acorrentado e preso

No mais profundo dos mares grita pela luz

Ou por quem sabe até uma pequena chama

Que possa quebrar o gelo da solidão

Por muito tempo eu senti as pessoas

Se completando com outros ao meu redor

Eu não entendia por que alguns eram suficientes

Para os outros e eu nunca bastava

Nunca fiz parte dos planos do amor

E o que restava de mim gritava por afeto

Sofri muito, sim eu chorei muito

Com o tempo aprendi a fazer isso sozinho

Em silêncio e sem incomodar aqueles que de mim precisavam

Eu me doei, servi a vários propósitos

E quando já não era mais necessário era trocado

Não tenho rancor, são outras aflições que me conduzem

Conheço a estrada da decepção, conheço a despedida

Tive que conseguir um coração novo a cada partida

Mesmo sabendo que logo em seguida ele seria arrancado

Quase duvidei da humanidade que restava dentro de mim

Quase deixei de ser humano ao flertar com a morte

O que resta?

O que posso esperar?

Se é que devo esperar...

Tratei de escrever com sangue o que só eu lia

As entrelinhas da minha vida estão apagadas

Por uma dor que só eu reconheço

Meu coração está pesado e preso no fundo do oceano

Alguns dizem que esse oceano se chama Alma

E eu chamo de inferno...

Nasci sob o signo da perda e em cada esquina da vida

Eu espero por uma nova oportunidade de perder alguém

Eu nasci só, somente para perder os que amava

Nas profundezas dos meus olhos nada se reflete

Nem um brilho escapa do casulo da dor

E nenhuma dor escapa dos abraços da solidão.

E é no coração do oceano, somente lá

Que sepultamos todos os corações mortos pelo amor

Talvez alguns lembrem desses rabiscos infernais que nada tem de poesia, pelo menos para mim...

Paulo Raven
Enviado por Paulo Raven em 30/01/2019
Reeditado em 23/07/2020
Código do texto: T6562674
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