O Coração do Oceano
Meu coração perdido, acorrentado e preso
No mais profundo dos mares grita pela luz
Ou por quem sabe até uma pequena chama
Que possa quebrar o gelo da solidão
Por muito tempo eu senti as pessoas
Se completando com outros ao meu redor
Eu não entendia por que alguns eram suficientes
Para os outros e eu nunca bastava
Nunca fiz parte dos planos do amor
E o que restava de mim gritava por afeto
Sofri muito, sim eu chorei muito
Com o tempo aprendi a fazer isso sozinho
Em silêncio e sem incomodar aqueles que de mim precisavam
Eu me doei, servi a vários propósitos
E quando já não era mais necessário era trocado
Não tenho rancor, são outras aflições que me conduzem
Conheço a estrada da decepção, conheço a despedida
Tive que conseguir um coração novo a cada partida
Mesmo sabendo que logo em seguida ele seria arrancado
Quase duvidei da humanidade que restava dentro de mim
Quase deixei de ser humano ao flertar com a morte
O que resta?
O que posso esperar?
Se é que devo esperar...
Tratei de escrever com sangue o que só eu lia
As entrelinhas da minha vida estão apagadas
Por uma dor que só eu reconheço
Meu coração está pesado e preso no fundo do oceano
Alguns dizem que esse oceano se chama Alma
E eu chamo de inferno...
Nasci sob o signo da perda e em cada esquina da vida
Eu espero por uma nova oportunidade de perder alguém
Eu nasci só, somente para perder os que amava
Nas profundezas dos meus olhos nada se reflete
Nem um brilho escapa do casulo da dor
E nenhuma dor escapa dos abraços da solidão.
E é no coração do oceano, somente lá
Que sepultamos todos os corações mortos pelo amor
Talvez alguns lembrem desses rabiscos infernais que nada tem de poesia, pelo menos para mim...