“Abstinência"

Roma 24/03/2019

Eu

Que me sentia

Alado

Marginal

A vícios

Dependências

Hoje vivo abstinências

Abstinência;

De coisas que não sabia

Me entorpeciam

Ofuscavam;

Meu olhar

Meu coração

Meu corpo

Meu mundo

Minha Nau

Abstinência;

De olhos

Boca

Mãos e cabelos

Cheiro

Travesseiros

Calor no meu peito

Dois pulmões a respirar

Abstinência de mim mesmo

Das cinzas de onde venho

É preciso destruir

Se quiser recomeçar

Abstinência;

Do que eu nem conheço

Do que eu fui

Sem ser inteiro

Do que ficou

Passou

Encontrou o seu lugar

Para quebrar o casulo

Tem que sangrar

Espírito livre

Mais leve que o ar

Só assim

Posso voar

Abstinência;

De carnes

Humana e animal

Sinto falta

De tudo que me fez

Bem e mal

Bom ou mau

Coisas que eu fiz

E me fizeram;

Arder

Sangrar

Amar

Soltar

Me deram

Abstinência;

Dos frutos

Doces e amargos

De sentimentos

Abstratos

Porta retratos

Momentos congelados

Que não vejo mais

Abstinência;

De queijos

Bocejos

Beijos

Segredos

Doces e picantes

Desejos

Que não tenho mais

Abstinência;

De músicas

Memórias

Lembranças

Danças

Das nossas infâncias

De estarmos a sós

Sinto falta;

Do que me fez chorar

De quem chorou em mim

Comigo

Por mim

Por nós

Sonhos falidos

Vividos

Dos lugares mais profundos

Que pude visitar

Falta;

Da minha mesa de corte

Onde trabalhava um sonho

Enquanto via Alguém

Dormindo

Sonhando

E ali já sabia

Teria que nos acordar

Ahh mesa de corte

Símbolo forte

Do mais perto que cheguei

De amar

Ali vi um anjo lindo

Me esperando

Adormecido

Enquanto me preparava

Para acordar

Aqui cabe uma correção

A palavra talvez não seja

‘Falta’

Para ser coerente

Com a alma

Abstinência soa melhor

Falta

Sentimos

Do que queremos

De novo

De volta

A volta

Abstinência sim

Rima com dependência

E isso

Ou dessa

Nunca mais quero provar

Falta sinto das músicas

Até das dúvidas

Que me faziam sorrir

Me permitiam sonhar

E hoje

As quero de volta

As dúvidas

De como você seria

E as músicas

Que me fazem imaginar

Como será

E todas essas faltas

Abstinências

Pessoas certas

Nunca erradas

Ou por engano

Encontradas

Me fizeram despertar

Nosso encontro está próximo

Não que sozinho eu possa recair

Mas por favor

Venha me salvar

Não tenho medo do escuro

Mas traga luz

Venha me curar

Não tenha medo do meu mar

Ele é agitado

Profundo

Mas um bom lugar

Para se afogar

Verá

Que a tempestade

Faz parte só da superfície

Das margens

No fundo do meu ser

Encontrará seu cais

Abstinências

Sem mais.

o sarto
Enviado por o sarto em 24/03/2019
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