INSUFICIÊNCIA
Eu conheço bem o que pensam,
sempre soube: minhas costas largas
carregam como fardo
mil chicotadas com línguas.
O desdém dos olhares aguçados
e os sorrisos distraindo-se
dos meus.
Sou incapaz de armar
absurda eloquência,
pois tudo que digo parece
sempre tão sem importância.
Parece com latir, grunhar.
E tudo que você pensa é:
alguém pelo amor de Deus
leia essa melancolia em braile.
Alguém pelo amor de Deus!
Tranca-se no casulo da poesia,
bebe gotícula a gotícula
cada dia mais satisfeito
em se trancafiar, ridículo,
refém das palavras.
Há desespero em se olhar no espelho
e enxergar-se cacos: você não sabe
exatamente o que é,
sem imagem a sustentar altares.
O homem na encruzilhada.
O Mito sempre prestes a ser.
Arquétipo: alvo pronto
para dedos apontados.
O rosto em carne viva
arde arde arde arde
arde toda vez que
voltam-se para si.
E tudo que você deseja
é a permissão da
providencia divina,
o milagre instantâneo
do antigo testamento,
tornar-se sal para
fundir-se em terra.
Até a matéria sucumbir,
até a matéria sucumbir,
até a matéria sucumbir…
Fundir-se pó estelar
desejando ardentemente
adubar outra existência
e tudo que pensa é:
alguém pelo amor de Deus
ordene o caos &
faça-me primevo além
desse buraco negro.
Lucas Luiz da Silva
Enviado por Lucas Luiz da Silva em 25/10/2019
Código do texto: T6779088
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