Me encontrar

Despido do universo das coisas

percorro o que há de mais incerto

Sou eu quem traço meu destino

Eu que me emaranho na dor

Cansado de viver em eterno rancor

prefiro me despir das certezas

e permitir tocar o abstrato

De fato despir a mente

é como desnudar a alma

tornando o coração mais leve

Tomo do destino o meu caminho

e aceito que estou sozinho

aceito que todos me deixem

mas que seja permitido que eu vá

Preciso ir para onde não conheço

vagar pelas incertezas

sem tentar domar a dúvida

Que a fúria do meu coração se acalme

já que não é possível viver de restos

ou as migalhas de amor

que caem na minh’alma...

Quero abraçar tudo

ainda que só a solidão esteja presente

e com ela estendendo os meus braços

sei que dependo só de mim

Por fim, de quem eu dependeria?

Nada pode ser tão certo

como esse caminhar trôpego

que arrastei pelo meu caminho

e estar sozinho traz alívio

pois não é lícito com outros afundar

Estendo a mão

Trago-me de volta

Afago meu coração

Livrando-o da revolta

Sou eu que me aceito

Já o mundo...

O mundo não tem nada com isso

Se me atirei em algum precipício

hoje sou eu que me resgato

e não busco uma verdade

não apego-me a um deus

Apego-me ao que sou

e se isso não me bastar

apego-me ao que preciso ser

Sei que que preciso ser eu mesmo

puro e sem as imitações dos desejos

e se eu sonhar em ser algo

que eu seja invisível

já que o que eu quero e preciso

é que me vejam com os olhos do coração...

Ouvindo Nothing Else Matters - Metallica

“Tudo em meu torno é o universo nu, abstrato, feito de negações noturnas. Divido-me em cansado e inquieto, e chego a tocar com a sensação do corpo um conhecimento metafísico do mistério das coisas...” - Fernando Pessoa

Paulo Raven
Enviado por Paulo Raven em 02/02/2020
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