A Companheira Solidão

Não preciso ter medo da Solidão

Ainda que ela me castigue

Ou me reduza a nada

Ao nada que já sou

A Solidão é a cicatriz do coração

Ferida primal que a tudo toca

E por mais que estejamos

Rodeados de multidão

A solidão é o prato final

A sombra eterna da imensidão

A Solidão persegue a Dor

Dando-lhe abrigo em seu abismo

É quase impossível dela fugir

Ela é o brilho que cega o porvir

Que reduz a Esperança esperada

Ao nada que haverá de vir

O Amor seu maior rival

Tomado por paixão colossal

Com a Solidão até tentou lutar

E no rufar de seu desespero

Por ela também foi dominado

E pensando onde tinha errado

O Amor tornando-se passional

Aliou-se ao que havia de mais marginal

Em seus ciúmes matou seu companheiro

Sacrificou o Bem seu aliado verdadeiro

E quase nada, nada

Pode fazer contra a Solidão

Que o trancou em eterno cativeiro

Mas eu não preciso temer a Solidão

Ela me acompanha de janeiro a janeiro

E com ela aprendi a caminhar

Vagando sutilmente perdido

Sem precisar ficar escondido

Pois quem está só

Não teme mais a Saudade

Com a dor da Ausência superada

Agarro pela mão o fio da espada

E que a Solidão me abrace primeiro

Já que depois dela, somente depois

A Morte se tornará a minha amada...

Paulo Raven
Enviado por Paulo Raven em 14/02/2020
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