A Companheira Solidão
Não preciso ter medo da Solidão
Ainda que ela me castigue
Ou me reduza a nada
Ao nada que já sou
A Solidão é a cicatriz do coração
Ferida primal que a tudo toca
E por mais que estejamos
Rodeados de multidão
A solidão é o prato final
A sombra eterna da imensidão
A Solidão persegue a Dor
Dando-lhe abrigo em seu abismo
É quase impossível dela fugir
Ela é o brilho que cega o porvir
Que reduz a Esperança esperada
Ao nada que haverá de vir
O Amor seu maior rival
Tomado por paixão colossal
Com a Solidão até tentou lutar
E no rufar de seu desespero
Por ela também foi dominado
E pensando onde tinha errado
O Amor tornando-se passional
Aliou-se ao que havia de mais marginal
Em seus ciúmes matou seu companheiro
Sacrificou o Bem seu aliado verdadeiro
E quase nada, nada
Pode fazer contra a Solidão
Que o trancou em eterno cativeiro
Mas eu não preciso temer a Solidão
Ela me acompanha de janeiro a janeiro
E com ela aprendi a caminhar
Vagando sutilmente perdido
Sem precisar ficar escondido
Pois quem está só
Não teme mais a Saudade
Com a dor da Ausência superada
Agarro pela mão o fio da espada
E que a Solidão me abrace primeiro
Já que depois dela, somente depois
A Morte se tornará a minha amada...