Cigarro
Coragem, solidão
Uma ponte entre dois polos
Um vale, uma depressão
Estou nessa travessia
Os dias são cilcos rápidos
Entre eles eu sigo parado
Todos os caminhos são iguais
A solidão é meu cigarro
Uma despedida me causa rara alegria
Volto a deliciar-me com uns tragos
Não sei se a pessoa vai voltar
Já não consigo me importar
Nem mesmo disfarçar
Meu coração anda cansado
Meu espírito quer repouso
Não sei muito desse momento
Só sinto meu dorso cada vez mais pesado
Minha coragem, tantas e tantas vezes mostrada e lustrada com orgulho e petulância Hoje simboliza lembrança da tolice de um jovem romântico
A meia-idade vêm me mostrando o quão eu negligenciei meu jardim
O que sobrou pra mim?
Cansaço
Solidão
Eu disfarço com o modo automático
Mas sempre que posso procuro ficar sozinho
Nem que seja longe do ninho
Essas linhas são pra isso
Um pouco de reflexo gráfico do meu rosto verdadeiro
Estou cansado
Estou sozinho
Me sinto bem com isso
Não há uma letra de reclamação nisso tudo
Apenas uma verbalização verdadeira de um ser que compreende o processo erguido por ele mesmo
As ladeiras juvenis engrossaram minhas mãos
Embruteceram meus gestos
Meu jeito é uma singela homenagem aos guerreiros pequeninos
Desde meninos somos assim
Pequenos pardais num jardim de cactos e gaviões
A solidão é meu cigarro
Não quero fazer raio X dos pulmões
Talvez seja isso ou aquilo
Um grilo sempre canta no canto
E a noite seja uma sinfonia de insônia
Aa horas passam vazias
Entre um cigarro e outro já vejo a barra do dia
Isso não faz diferença
Minha crença nessa travessia não permite euforia tola
Continuamos entre um lado e outro da ponte
Caminhando...
Ouvindo um "bom dia" de quem parou o assovio com alegria
Eu acendo meu cigarro
O pardal tem a sua própria sinfonia