Cigarro

Coragem, solidão

Uma ponte entre dois polos

Um vale, uma depressão

Estou nessa travessia

Os dias são cilcos rápidos

Entre eles eu sigo parado

Todos os caminhos são iguais

A solidão é meu cigarro

Uma despedida me causa rara alegria

Volto a deliciar-me com uns tragos

Não sei se a pessoa vai voltar

Já não consigo me importar

Nem mesmo disfarçar

Meu coração anda cansado

Meu espírito quer repouso

Não sei muito desse momento

Só sinto meu dorso cada vez mais pesado

Minha coragem, tantas e tantas vezes mostrada e lustrada com orgulho e petulância Hoje simboliza lembrança da tolice de um jovem romântico

A meia-idade vêm me mostrando o quão eu negligenciei meu jardim

O que sobrou pra mim?

Cansaço

Solidão

Eu disfarço com o modo automático

Mas sempre que posso procuro ficar sozinho

Nem que seja longe do ninho

Essas linhas são pra isso

Um pouco de reflexo gráfico do meu rosto verdadeiro

Estou cansado

Estou sozinho

Me sinto bem com isso

Não há uma letra de reclamação nisso tudo

Apenas uma verbalização verdadeira de um ser que compreende o processo erguido por ele mesmo

As ladeiras juvenis engrossaram minhas mãos

Embruteceram meus gestos

Meu jeito é uma singela homenagem aos guerreiros pequeninos

Desde meninos somos assim

Pequenos pardais num jardim de cactos e gaviões

A solidão é meu cigarro

Não quero fazer raio X dos pulmões

Talvez seja isso ou aquilo

Um grilo sempre canta no canto

E a noite seja uma sinfonia de insônia

Aa horas passam vazias

Entre um cigarro e outro já vejo a barra do dia

Isso não faz diferença

Minha crença nessa travessia não permite euforia tola

Continuamos entre um lado e outro da ponte

Caminhando...

Ouvindo um "bom dia" de quem parou o assovio com alegria

Eu acendo meu cigarro

O pardal tem a sua própria sinfonia

Marcos Frank
Enviado por Marcos Frank em 11/12/2024
Reeditado em 11/12/2024
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