No espelho do silêncio
Hoje, teu olhar pesa mais que o céu,
um infinito de nuvens carregadas,
tuas palavras caem como tempestade,
gota por gota, ferem minha calma.
O que houve com o brilho dos teus olhos?
Com a suavidade dos teus gestos?
Hoje és o vento que corta,
a maré que engole meus versos.
Quis fazer-te abrigo, mas foste tormenta,
quis ser tua paz, mas trouxe-me guerra.
Será que no fundo do teu cansaço
há espaço pra enxergar minha espera?
E, ainda assim, sou o porto que fica,
mesmo que a maré me arraste,
mesmo que teu silêncio grite,
sou eu quem segura o lastro da tua âncora.
Mas hoje, só hoje, te deixo no mar,
pra que sintas o vazio do meu afastar.
E talvez, ao perceber meu naufrágio,
lembres que também preciso de ar.