Por que só me ligas na tua solidão?
Em minha casa, eu estava,
Meus dedos eu contava.
O telefone toca, e eu atendo,
Era tu, me pedindo, te doendo.
Penso que, na tua escuridão,
Abririas todo o teu coração.
Na verdade, querias me diminuir,
Sugar minha alma até diluir.
Teus discursos parecem fortes,
Mas são fracos, com portas tortas.
E tuas palavras, ditas ricas,
Eu fico a rir enquanto tu ficas.
Por que só me chamas na tua solidão?
Eu te estendo as minhas mãos.
Sou tratada como mercadoria,
E me negas quando sou prataria.
Tua voz parece seca,
E meus olhos, cegos, parecem sem treca.
Acreditei que era menor,
Quando, no fundo, era tua dor.
Enches as bochechas de ar,
E me fazes provar
Que só cresci te imitando,
Quando, na verdade, estou apenas caminhando.
Tua diversão é cravar uma faca fincada
Nas minhas partes desmontadas.
Fico olhando, com o frio duradouro,
De quem virou um couro.
Por que só me chamas na tua solidão?
Eu te dou todo o meu coração.
Sou vista como um objeto,
E me negas quando sou um reto.
Quando me afirmei, um ser libertino,
Disseste que eu era o pior, um vazio.
Mental de um ser tão frio,
Poupa tuas moralidades de batina.
Agora, me valorizo muito mais
Do que quando tu me olhavas como iguais.
Tenho pena de quem cai no teu conto,
Assim, quem sabe, se esconde no pronto.