A solidão é um portal

Por que em dias como este me sinto tão só,

Quando o céu se veste de um véu cinzento,

E a chuva desaba em um lamento feroz,

Como se o universo partilhasse meu tormento?

O coração, invadido por amores dispersos,

Os vividos, as sombras, os ainda não nascidos,

Dançam em mim como ecos reversos,

Entre o suspiro do que foi e o grito do perdido.

A chuva escorre como dedos na vidraça,

Lava as memórias e deixa um rastro frio.

Mas há beleza na dor que não passa,

Há vida no vazio, há pulsar no sombrio.

Talvez a solidão seja apenas um portal,

Onde os ventos do tempo sussurram verdades,

E cada lágrima é um cristal boreal,

Brilhando na escuridão das saudades.

Então que venha a tempestade, voraz e profunda,

Pois só no caos a alma aprende a renascer.

E quando o sol romper, num grito que inunda,

Serei terra fértil, pronta para florescer.