Emblemático, enigmático
Emblemático, enigmático
Como faço para enxergar no escuro?
Ver o que se esconde atrás do muro
Entender a velocidade do sangue que corre em minhas veias
Entender a aranha armando a sua teia
Os cálculos imperfeitos que nunca foram refeitos, mesmo porque nunca se achou um jeito
Um corredor estreito, onde se espreita
a falta de consciência
Relés, seres opacos, nada correlatos
Cada qual se encaminhando para seus próprios buracos
Cada vez mais o tempo se torna exíguo
A areia esvaiu-se pela ampulheta, cada segundo consome pouco a pouco uma vida tola e careta
Um sonho, um sono, o eterno abandono
Sorrisos emitidos num corpo de dublê
Disfarce permitido a quem apenas transfere o seu corpo que não quer viver
O escuro da noite, a luz do dia, o vento que açoita
O pássaro no céu, aves de mau agouro
O silêncio que é tormento, a cortina do teatro da vida
Abre e fecha, abre e fecha, mais um dia ela só fechará
Não haverá mais show, indecifrável
Emblemático, enigmático eu sou
Jonas Luiz
São Paulo, 11/01/18