Cartografia de uma loucura anunciada

Fecho meus olhos,

sinto o som dos carros lá fora,

a chuva fina no concreto,

pessoas apressadas,

sinais de trânsito acelerados,

verde, amarelo, vermelho,

ninguém olhando nos olhos,

sem tempo para abraços,

ouço o som do barulho,

uma mensagem de socorro,

uma carta invisível numa garrafa sem mar,

frieza, tristeza, indiferença,

onde estão os amigos?

onde estão os sorrisos?

onde estão os feriados?

onde estão os amores?

onde estão os fins de semana?

estou perdido nessa cartografia,

nesse deserto de emoções,

tateio no escuro por esperança,

busco luz em quaisquer frestas,

estou aprisionado numa noite sem estrelas,

sou parte de uma multidão de solidão,

ouvindo solos de guitarra na madrugada,

assoviando notas musicais enquanto escrevo,

letras musicadas para surdos,

poesias para cegos,

toadas para mudos,

e o mundo parece girar mais rápido,

minha insanidade bate à porta,

meus delírios recomeçam,

minha pintura se mexe em 3D,

sou o DJ das explosões em meus tímpanos,

danço pela casa sem me importar com as cadeiras,

porque no final tudo um dia há mesmo de acabar...