A alegria de viver

Vivemos como se não coubesse mais

no mundo o silêncio.

Vivemos cabisbaixo, capionga,

Como se a onda acabasse

A cada quebrada que dá,

Sem vê-la voltar pro mar,

Sem ver em seu fim o começo.

Vivemos como se cada gesto

Não tivesse uma ambição,

Um motivo, uma inspiração.

Como se cada ação fosse, assim,

Indiferente.

Vivemos como se a gente

Não tivesse coração.

Vivemos como se a gente

Fosse de ferro feito,

Daqueles mais duro,

Que nem chega a caber no peito.

Onde não entra emoção, alegria, compaixão.

Vivemos transformando o sim, em não.

Uma vida torta, sem razão.

Esquecemos que viver

Não é sofrer,

E que sorrir

Não é, assim, tão difícil.

Esquecemos que o maior ofício

de quem vive,

É viver.

Esquecemos que o mundo

Não é assim tão mal,

E que flor que nasce no quintal

É sinal de um novo amanhecer.

Que a sina de quem vive é crer

Que o único trabalho, realmente sério,

De quem vive, é viver.

Viver não de qualquer jeito,

Como se a dor no peito

Fosse o fim da caminhada.

Como se a empreitada

Fosse o fim da cantoria,

Do sorriso, da alegria.

Viver como se o dia

Fosse o presente perfeito,

Como se o céu beijasse o chão

A cada pôr do sol refeito,

Como se o mundo coubesse interim,

De verso em verso dentro do peito.

Felipe Chaves
Enviado por Felipe Chaves em 15/06/2018
Reeditado em 27/10/2018
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