Os que andam descalços

Os meus pés são terra revirada por diferentes passos e na longa caminhada um rastro se encerra, entre tantos percalços, ainda que não finda a andada.

E são tantas as ruas a gastarem solados, que me pergunto o que a vida consome dos descalços, o couro esfolado, a carne exposta, são tantas as perguntas e tão poucas as respostas.

No asfalto rachado os paralelepípedos emergem. O tempo revela e esquece. Enegrece o branco das fachadas das velhas igrejas, construções coloniais e casarões. Em um mesmo tom de negro do jugo e grilhões.

Marcas de um passado já distante, mas não esquecido, reescrito na pele o mesmo antes no agora pois há sempre o oprimido, o subjugado ... e apesar de minhas mãos e todos estes calos sigo com a palavra empunhada porque um homem é escravo não do que diz, mas, sim, do que cala.

"Quem não trabalha não come é conversa muito falha, porque só vemos com fome o povo que mais trabalha."

Ivo Jeremias
Enviado por Ivo Jeremias em 26/07/2018
Reeditado em 26/07/2018
Código do texto: T6401278
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