Mudanças inertes

Nada é mais estático que as mudanças

Mudamos tanto que tudo acaba sendo esperado

E as novidades despretensiosas talvez nunca cheguem

E há quem reclame do calor e busque o frio

Consegue mudar a sensação térmica

E se descontenta facilmente com a nevasca

E quem sabe realmente o que quer?

Que mudança buscar?

Que estrondosa inércia quebrar?

No fundo, vejo o mundo parado

Pessoas dando voltas sobre si mesmas

E depois da centésima viagem, retornando...

É estranho, mas voltamos ao ponto inicial

E a mudança que buscamos nos cansa

De tanto mudarmos, nos brota o temido enjoo

E eu fico observando não mais com os olhos

A tragédia é perceptível ao tato

É possível apalpar o sofrimento dos agitados estáticos

Vivem correndo, hoje contra o vento

Amanhã contra si mesmos...

E então o que falo de mim?

Observo o mundo mudando e estremeço

Não porque eu não possa mudar

Mas estremeço ao pensar que tudo se repetirá

E que as mudanças não passarão de novidades já sentidas

O sentimento de Déjà Vu diante do novo se supera

Como é sobre mim que devo falar

Atrevo-me a dizer que bastaria uma simples mudança

Nada escandaloso ou que cause celeuma nas massas

Eu queria essa pequena alteração de nuances

Mudar em mim o preto para o cinza

O frio para uma brisa suave

Na verdade não, é a revolta que me move

E a revolta não é filha única das mudanças

Vem acompanhada de consequências

Enquanto todos nós buscamos por alterações da realidade

Espero não fazer unicamente parte do todo

Se muda o todo, deixa de ser novidade

Tudo mudando e levando a gente junto

Deixa de ser surpresa, deixa de ser humanidade

Paulo Raven
Enviado por Paulo Raven em 24/09/2019
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