Quando as luzes se apagam

A noite cai lá fora

os pensamentos voam

rodopiando em labirintos

perdidos em quebra-cabeças

jogando dados com o destino

cacos de vidro pelo chão

não me machucam mais

janelas abertas

não me resfriam mais

há um silêncio incomum

um assovio das montanhas

numa cidade triste

de corações solitários...

Quando as luzes se apagam,

você ainda tateia por algum sentido,

ainda deseja crer que há um final feliz,

mas tudo o que existe é o tempo, passageiro, imperdoável...

A chuva cai lá fora

os sorrisos estão sérios

entorpecidos no ébrio contexto

soltos na ventania

balançando num varal

espinhos em roseirais

não me fazem sangrar mais

pedras pelo caminho

não me impedem o trajeto mais

há um perfume no ar

um incenso de monges budistas

numa sociedade sem Divindades

de estranhos conhecidos...

Quando as luzes se apagam,

você ainda espera por bons sonhos,

ainda quer acreditar em trevos de quatro folhas,

mas tudo o que existe são galhos retorcidos de uma árvore de outono...